terça-feira, 5 de abril de 2022

Yesterday

 Parece que foi ontem, mas faz 4 meses. 121 dias...

121 de saudades. Alguns (muitos) dias dolorosos, e alguns dias mais leves. Todos os dias: saudades.

Tenho lido vários relatos de outras mães que tiveram perdas perinatais (durante a gestação ou primeiros meses após o nascimento) e muitas dizem que temos saudade daquilo que não vivemos... Daquilo tudo que sonhamos e planejamos com nossos filhos.

É verdade. Cada marco temporal me coloca a questionar como ela estaria agora. Estaria brincando, sorrindo, começando a ficar sentadinha? Será que ia acordar muito durante as madrugadas? Será que ia gostar das músicas que colocaria para ela? 

Como ela ia ficar linda no colo do papai, com as roupinhas fofinhas que ganhamos...

Penso em todos esses "como seria" com um tiquinho de melancolia, mas também com amor e gratidão. É gostoso pensar nela, manter sua memória viva em mim. Mesmo a "memória" do que não pudemos viver nesse tempo.

Mas eu não tenho saudades só do que não pudemos viver. Tenho saudades do 'ontem', também. Tenho saudades das mexidinhas dela na minha barriga... De colocar as músicas para ela ouvir, de dançar com ela, da "resposta" em chutinhos para a voz do pai contando histórias e fazendo prece, coladinho na barriga. Tenho saudade de ouvir seu coraçãozinho... de ver seu rostinho no ultrassom. 

Sobretudo, tenho saudade daquele sentimento de, mesmo não sabendo o que viria depois, saber que enquanto ela estava na barriga, estava bem. Que gratidão eu sentia sabendo que eu era seu lar, seu abrigo, sua fonte de nutrição. Que saudades de saber que era eu que a mantinha segura, que eu era tudo que ela precisava. Que saudade de estar constantemente envolvida no maior amor e alegria que já senti na vida.

Ela precisou partir, e eu não sei o porquê. Também não quero respostas exatas. Ninguém tem a resposta exata e não adianta criar ou imaginar cenários para me consolar... Não precisa dizer que pode ser que ela volte como um outro bebê na nossa família, que ela era tal ou qual pessoa, que ela precisava reparar tal falha, que era a vontade de Deus, ou que foi melhor assim. Não importa.

Para mim, o que importa é que ela me concedeu a benção de ser sua mãe, pelo tempo que ela precisou estar aqui. Importa saber que fiz ao meu alcance para dar tudo que ela precisava naquele momento, todo o amor e cuidado que eu tinha. E saber que ela me ensinou muitas coisas, me fez querer ser melhor, me fez entender a importância de agradecer e valorizar cada dia, cada momento.

Ainda assim, sinto saudades. Fecho os olhos por alguns segundos e nos vejo vivendo tudo que não pudemos viver nesse momento.

Mas fecho os olhos novamente e lembro de tudo de maravilhoso que nós vivemos, me esforço pra resgatar todos aqueles sentimentos incríveis de amor, plenitude... e agradeço.

Gratidão, filha. Gratidão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário