sábado, 30 de abril de 2022

Ho’oponopono para minha filha

Você é meu primeiro pensamento quando acordo e o último quando vou dormir. Na maioria dos dias… Nos outros dias eu acordo e durmo no piloto automático e vou vivendo cada coisinha sem pensar, nem fazer prece.


Sinto muito 

Me perdoe 

Te amo 

Sou grata


Você é responsável pela maior alegria e maior amor que eu já senti na vida. Mas, às vezes, me pego muito triste com a sua partida.


Sinto muito 

Me perdoe 

Te amo 

Sou grata 


Desde que descobrimos que nosso tempo juntos seria bem curtinho, fizemos todo o possível para que você estivesse confortável e cercada de amor e carinho. Mas apesar de aceitarmos que era essa a sua trajetória, às vezes desejo que você pudesse ter ficado mais.


Sinto muito 

Me perdoe

Te amo

Sou grata


O tempo que passou conosco era exatamente o tempo necessário pra você e foi honrado e aproveitado em cada momento. Mas às vezes eu fico sonhando e imaginando como seria se estivesse aqui e o que estaríamos fazendo.


Sinto muito 

Me perdoe 

Te amo

Sou grata


Sua passagem, embora breve, foi imensa e transformadora. Mudou meu jeito de pensar e de sentir e me inspirou a ser e fazer muito mais. Ainda não tenho clareza do meu propósito, e confesso que me acomodei um pouco na inércia dessa dorzinha… mas quero me esforçar pra honrar essa nova missão que se abre.


Sinto muito 

Me perdoe

Te amo

Sou grata


Tenho descoberto que o luto é uma montanha russa cheia de altos e baixos. Às vezes estou lá embaixo e fico muito muito triste… Às vezes estou bem, lembro de você com alegria. Às vezes eu consigo até rir e sorrir, e ser brincalhona como era antes… Só que aí, me sinto culpada.


Sinto muito

Me perdoe

Te amo

Sou grata


Posso escrever sobre diversas situações e sentimentos que tenho vivido desde que você partiu. Mas nada resume tão bem quanto esta oração:


Sinto muito

Me perdoe

Te amo

Sou grata!

terça-feira, 19 de abril de 2022

"Me lembrei que o nosso amor não fronteiras..."

 Andei tendo dias difíceis... Dias nublados, desafiadores. 

Tenho confirmado que o luto não é mesmo uma linha reta, como a Ruth Manus explica tão bem nesse texto aqui: o luto não é uma linha reta

É engraçado porque quem me viu num dia bom, rindo, conversando e brincando "normalmente" pode achar estranho e até forçado eu estar tendo crises de choro no outro dia, sem qualquer motivo "aparente", sem que nada de novo tenha acontecido. Talvez, no passado, eu mesma julgasse alguém que visse assim, "super bem" num dia e completamente triste no outro, sem nenhum outro evento motivador dessa dor repentina... Ué, aquela dor não tinha passado, diminuído? Pois é... Vivendo e aprendendo.

Depois de alguns dias cinzas, achei que hoje seria difícil também. Eu sou muito ligada a algumas datas e hoje faz um ano que descobrimos a gravidez da Teresa. Faz um ano daquelas duas listrinhas rosas que mudaram a minha vida.

Achei que ficaria ainda mais triste e dolorida, como tenho andado. Mas acordei bem. Acordei feliz e grata.

Fechei os olhos e tentei lembrar do que eu senti quando eu vi aqueles dois risquinhos. Naquele dia, no fundo do meu coração, eu já sabia. Mas aquela confirmação... Quanta emoção, quanta felicidade, quanto amor. 

Como são poderosos os sentimentos e suas lembranças. Poderia ter ficado triste com essa lembrança (e pode ser que eu ainda fique, em outro momento, com essa ou outras lembranças - faz parte de ser humana). Mas a verdade é que aquele amor e felicidade me abraçaram essa manhã. E eu senti gratidão por tudo isso. Por todo esse novo e arrebatador amor que começou um ano atrás, eu só senti gratidão. E "me lembrei que o nosso amor não tem fronteiras..."


Um ano dessa alegria que estará sempre gravada no meu peito... É diferente do que imaginei um ano atrás, mas ainda assim, há muito amor e gratidão. 




terça-feira, 5 de abril de 2022

Yesterday

 Parece que foi ontem, mas faz 4 meses. 121 dias...

121 de saudades. Alguns (muitos) dias dolorosos, e alguns dias mais leves. Todos os dias: saudades.

Tenho lido vários relatos de outras mães que tiveram perdas perinatais (durante a gestação ou primeiros meses após o nascimento) e muitas dizem que temos saudade daquilo que não vivemos... Daquilo tudo que sonhamos e planejamos com nossos filhos.

É verdade. Cada marco temporal me coloca a questionar como ela estaria agora. Estaria brincando, sorrindo, começando a ficar sentadinha? Será que ia acordar muito durante as madrugadas? Será que ia gostar das músicas que colocaria para ela? 

Como ela ia ficar linda no colo do papai, com as roupinhas fofinhas que ganhamos...

Penso em todos esses "como seria" com um tiquinho de melancolia, mas também com amor e gratidão. É gostoso pensar nela, manter sua memória viva em mim. Mesmo a "memória" do que não pudemos viver nesse tempo.

Mas eu não tenho saudades só do que não pudemos viver. Tenho saudades do 'ontem', também. Tenho saudades das mexidinhas dela na minha barriga... De colocar as músicas para ela ouvir, de dançar com ela, da "resposta" em chutinhos para a voz do pai contando histórias e fazendo prece, coladinho na barriga. Tenho saudade de ouvir seu coraçãozinho... de ver seu rostinho no ultrassom. 

Sobretudo, tenho saudade daquele sentimento de, mesmo não sabendo o que viria depois, saber que enquanto ela estava na barriga, estava bem. Que gratidão eu sentia sabendo que eu era seu lar, seu abrigo, sua fonte de nutrição. Que saudades de saber que era eu que a mantinha segura, que eu era tudo que ela precisava. Que saudade de estar constantemente envolvida no maior amor e alegria que já senti na vida.

Ela precisou partir, e eu não sei o porquê. Também não quero respostas exatas. Ninguém tem a resposta exata e não adianta criar ou imaginar cenários para me consolar... Não precisa dizer que pode ser que ela volte como um outro bebê na nossa família, que ela era tal ou qual pessoa, que ela precisava reparar tal falha, que era a vontade de Deus, ou que foi melhor assim. Não importa.

Para mim, o que importa é que ela me concedeu a benção de ser sua mãe, pelo tempo que ela precisou estar aqui. Importa saber que fiz ao meu alcance para dar tudo que ela precisava naquele momento, todo o amor e cuidado que eu tinha. E saber que ela me ensinou muitas coisas, me fez querer ser melhor, me fez entender a importância de agradecer e valorizar cada dia, cada momento.

Ainda assim, sinto saudades. Fecho os olhos por alguns segundos e nos vejo vivendo tudo que não pudemos viver nesse momento.

Mas fecho os olhos novamente e lembro de tudo de maravilhoso que nós vivemos, me esforço pra resgatar todos aqueles sentimentos incríveis de amor, plenitude... e agradeço.

Gratidão, filha. Gratidão.

segunda-feira, 4 de abril de 2022

O poder do amor

No começo, eu estava anestesiada, amortecida.

Era tudo meio embaçado, nublado, nebuloso. 

Aos poucos, a névoa foi se dissipando  e foi possível ver com um pouco mais de clareza. E aí doeu, doeu muito. 

O corte da cirurgia latejava e era uma lembrança constante de que eu fui aberta e tive um pedacinho meu tirado de dentro mim. Ficou o vazio e a dor. Era essa sensação física e psicológica também. Me abriram e tiraram de mim o que mais me importava. Qualquer movimento, qualquer posição só aumentava a dor. E parecia que nunca mais eu ia conseguir me mexer sem sentir aquela fisgada excruciante.

Mas teve amor. Teve muito carinho, acolhimento, paciência.  Teve flores, mensagens, abraços, orações, rabinho abanando e fucinho gelado. Teve sopa, teve bolo, teve lágrimas compartilhadas. Teve tanto cuidado. Teve tanta gratidão. Teve tanto apoio.

E, eventualmente, foi possível mudar de posição, levantar, caminhar, seguir, apesar da dor. Passou a ser possível aceitar, viver e conviver com a dor. A dor encontrou o lugarzinho dela e passou a fazer parte de mim.

Escrevo para lembrar. Que eu tive medo, mas nunca estive só. E que a maior dor foi também em benefício do maior amor. E que eu aceitaria aquela dor de novo, cem vezes mais, para entregar o cuidado e amor que ela precisasse de mim.

O poder do amor é incrível. O amor que me faria sentir qualquer dor que fosse necessária para o seu bem... Foi também o amor que me curou da dor que ficou. 

sexta-feira, 1 de abril de 2022

A régua do sentir

 Ontem eu tive uma crise de riso...

Foi a primeira vez, desde que minha filhinha nasceu e partiu, há quase quatro meses. Eu já tinha rido antes, mas não tanto como antes dela nascer.

Quando eu soube que ela partiria, quando ela partiu, embora eu achasse que compreendia e aceitava o que tinha acontecido, pensei que jamais conseguiria rir assim de novo. 

Mas, ontem, eu ri. De algo muito bobo, com amigos muito queridos, eu ri.

Nos momentos seguintes, já passei a me sentir culpada. É como dizem: nasce uma mãe, nasce uma culpa. No meu caso é um pouco diferente. A culpa veio porque eu pude rir, mesmo tendo perdido uma filha há tão pouco tempo (Aliás, quanto tempo é muito ou pouco tempo? Assunto para um outro texto).

Algumas pessoas dizem: "Como você é forte, eu não conseguiria". E em alguns momentos, essa frase me machuca um pouco. Que mãe sou eu, que consegue rir e sorrir depois de ter passado por isso? Será que as pessoas "que não conseguiriam" amam mais seus filhos do que eu amo a minha filha que já partiu?

É claro que não! Racionalmente, eu sei que não. Que os sentimentos, a dor e o amor, não tem uma régua universal que permite medir que pessoa ama mais, ou sofre mais. A medida é individual, particular. Só eu posso dizer o quanto sinto: que eu amo a minha filha mais do sabia que podia amar alguém. E que sua partida dói mais do que qualquer dor que eu já senti na vida. Ainda assim, a culpa me abala.

É. Ontem eu ri. Ri muito, ri alto e sinceramente. E não quer dizer que eu não ame a minha filha, ou que não seja mais dolorida a sua falta. Não quer dizer que eu esqueci dela por alguns momentos. Quer dizer apenas que estou seguindo, vivendo, sobrevivendo. E fazendo o possível para valorizar a vida que tenho. Foi uma das tantas coisas que o tempo breve com a minha filha me ensinou. Foi um dos presentes que ela me deu.

Antes de atravessar essa ponte da nossa separação, eu também achava que nunca mais seria capaz de sorrir, que não teria vontade ou alegria de fazer mais nada.

Mas desde o começo do nosso tempo juntas, ela me mostrou a importância de aproveitar cada dia, de viver cada dia. E é também para honrá-la que eu tentarei não ser triste, que aproveitarei as oportunidades de rir e sorrir. Mesmo com saudade, mesmo que seja sempre para imaginar depois como seria essa mesma situação se ela estivesse aqui.

Minha filhinha amada... A saudade é tão grande. Mas eu só quero vibrar coisas boas pra você. Então vou tentando aprender a sentir saudade sem tanta tristeza, a ser essa nova pessoa que você transformou.

"Quero que você seja feliz, hei de ser feliz também, depois..." 💓