segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

Para Teresa, só amor.

05 de dezembro de 2021, às 04 horas e  04 minutos de uma manhã de domingo, Teresa Angélica Ferreira Braga nasceu, suspirou e partiu. Nos preencheu de amor e gratidão pra sempre.... 

Como se mede um ano?

Eu gosto de visualizar uma volta completa ao redor do sol. E hoje completamos uma volta ao redor do sol de saudades. Um ano da nossa despedida física.

Faz um ano que você nasceu, suspirou e retornou à morada espiritual. Naquele exato momento, coincidentemente, estava terminando de tocar a sua música (Aurora - Tim e Vanessa), e depois de um "parto de difícil extração", você veio direto pro meu colo, pela única vez.  Quentinha, rosada, bochechuda, cabeludinha... E o tempo parou no mundo durante os momentos que estivemos ali, envoltas em amor.

Não temos fotos desse nosso momento. Então preciso revisitar a imagem mental, todos os dias, alguns segundos, para não deixar escapar nenhum detalhe... O seu rostinho, a sensação da sua pele na minha, a maciez das suas bochechinhas rosadinhas, seus dedinhos longos... Depois, ver seu pai ninando você. Essas cenas estão gravadas na minha memória. 

Completamos uma volta ao redor do Sol de saudades, e agora já se passaram todas as primeiras datas sendo sua mãe, mas sem você nos braços... a saída da maternidade de barriga e colo vazios (eu desmaiando na porta), o primeiro natal, o primeiro aniversário da mamãe e do papai, a primeira páscoa, o primeiro dia das mães, o primeiro dia dos pais...e, hoje, o seu primeiro aniversário.

Não foi um ano fácil. Foram muitos altos e baixos. Mas foi menos difícil do que achei que seria. Estava tudo bem enquanto você ainda estava aqui e embora eu soubesse e entendesse que você precisava partir logo, eu tinha muito medo, eu achava que não seria possível respirar, eu achava que nunca mais eu conseguiria sorrir...

Mas que injusto isso seria com você, minha filha. Você que foi tão forte e corajosa, que aceitou essa passagem breve e desafiadora, tantas dificuldades, tantos exames, tanto esforço... Você que ficou até Dezembro, até chegarmos ao nono mês, como eu tanto te pedi, porque sabia que eu não estava pronta para me despedir antes...

Seria injusto nunca mais sorrir e ser feliz, se você, mesmo diante da sua prova tão difícil me trouxe tantos sorrisos. Seria injusto não sorrir se você me ensinou a agradecer por cada novo dia, cada Aurora, cada Alvorada...

Então, fui reconhecendo essa nova versão de mim, fui aceitando a presença da saudade, e fui voltando a sorrir... Por mim e por você. Fui voltando a sorrir porque recebemos tanta força, tanto amor e tanto carinho, por sua causa, filha. Tantos abraços, tanto acolhimento, tantas mãos estendidas...

Foram muitas mensagens, de tantas pessoas queridas. 

Também conheci outras mães que se despediram cedo de seus filhos e elas também me acolheram e me inspiraram muito.

Assim passou esse primeiro ano de saudades, e eu fui encontrando maneiras de fazer sua memória, sua existência, estar presente, ser permanente e perene na minha vida. De não deixar seu nome e sua vida serem silenciados, escondidos ou esquecidos.

A vovó te transformou em personagem de livro e eu pude "te ver" criança, te ver moça...

E eu fui voltando a sorrir porque, mesmo não estando fisicamente aqui, você me fez e me faz melhor. Me fez querer ter mais cuidado e atenção com as dores dos outros (sejam quais forem). Me fez procurar dar o valor certo às coisas certas. Me fez enxergar beleza e gratidão nas pequenas coisas da vida... Naquelas que realmente importam. Me fez reconhecer e valorizar tantos amigos queridos, tantos gestos delicados de bondade que se escondem num simples sorriso, num aceno, num abraço, numa mensagem, numa palavra sincera... Me fez querer ser essa pessoa para quem precisar também.

É um processo, filha. Estou aprendendo, ainda. Dando pequenos passos, um dia de cada vez.

Às vezes, ainda vou chorar só da dor da saudade, mesmo. Só por alguns segundos, vou chorar por querer que fosse diferente. Sou humana. Sou uma mãe que, como qualquer outra, quer abraçar sua filha.

Mas logo eu me recomponho, porque eu não quero mandar sentimento de tristeza pra você.

Pra você, minha filhinha tão amada, só posso enviar a verdadeira gratidão que você me ensinou. 

Pra você, só pensamentos bons, só luz... Só o desejo de que o bem te encontre e que você encontre, sempre, o caminho do bem. 

Pra você, todas as bênçãos e desejos de felicidade que um coração de mãe pode emanar.

Pra você, Teresa, só amor.

Feliz aniversário, filha. Que Deus te abençoe sempre.








domingo, 5 de junho de 2022

“Nas coisas tão mais lindas”

 Feliz 6 meses, meu amor.

Te quero bem. Quero você sorrindo. Quero você feliz e grata, como você me faz, desde sempre.

Estou me comprometendo a trocar o inconformismo, tão doloroso, de querer que fosse diferente, por dedicar a você todos os momentos felizes que eu puder viver e proporcionar.

Vou trocar o pensamento (que soa tão absurdo) de "ela não está aqui" e seguir te sentindo presente em todas as "Coisas tão mais lindas" que eu presenciar, apreciar e agradecer nessa vida...

Em fazer o bem

Em todos os meus sorrisos

Em todos os meus abraços

Em todas as minhas risadas-gargalhadas altas e escandalosas

Em todas as brincadeiras

Em cada céu azul e pôr-do-sol e nuvens cor-de-rosa

Nas andorinhas dançando no céu

No perfume e beleza das flores coloridas

No cheiro de terra molhada e barulhinho de chuva

No cheiro de bolo no forno

No gostinho de comida de mãe

Na alegria dos amigos

No aconchego da família 

No colo de mãe e de vó

Nas mãos dadas com o papai

No momentos “Felícia” com a Panquequinha 

Nas músicas que canto alto e fora do tom

Nas nossas danças no meio da sala

Nas lágrimas de emoção em filmes, livros, canções…

Mas, especialmente, nas cenas cotidianas...

Porque a vida, minha filha, é muito linda.

E você está! 

"Nas coisas tão mais lindas..."

sexta-feira, 13 de maio de 2022

Arritmia

 Arritmia - Falta de regularidade e de constância do ritmo; alteração ou variação do ritmo.


Aparentemente eu tenho arritmia. Ou, pelo menos, apresentei "arritmias importante", nas palavras do médico. 

Me assustei. "É o sedentarismo! É sua alimentação, você precisa se cuidar".

Teria algo a ver com o parto recente, Doutor? 

"Sei que com criança pequena é difícil, mas tem que se esforçar".

Não, minha bebê faleceu.

"Sinto muito, é muita gente, eu não tinha como lembrar."

"Tem que fazer exame específico", "tem que tomar cuidado", "você não sentiu isso? o coração errando as batidas".

Pois é. Meu coração partido bate. Ele erra algumas batidas, mas ainda bate. 

Como poderia ser diferente?

sábado, 30 de abril de 2022

Ho’oponopono para minha filha

Você é meu primeiro pensamento quando acordo e o último quando vou dormir. Na maioria dos dias… Nos outros dias eu acordo e durmo no piloto automático e vou vivendo cada coisinha sem pensar, nem fazer prece.


Sinto muito 

Me perdoe 

Te amo 

Sou grata


Você é responsável pela maior alegria e maior amor que eu já senti na vida. Mas, às vezes, me pego muito triste com a sua partida.


Sinto muito 

Me perdoe 

Te amo 

Sou grata 


Desde que descobrimos que nosso tempo juntos seria bem curtinho, fizemos todo o possível para que você estivesse confortável e cercada de amor e carinho. Mas apesar de aceitarmos que era essa a sua trajetória, às vezes desejo que você pudesse ter ficado mais.


Sinto muito 

Me perdoe

Te amo

Sou grata


O tempo que passou conosco era exatamente o tempo necessário pra você e foi honrado e aproveitado em cada momento. Mas às vezes eu fico sonhando e imaginando como seria se estivesse aqui e o que estaríamos fazendo.


Sinto muito 

Me perdoe 

Te amo

Sou grata


Sua passagem, embora breve, foi imensa e transformadora. Mudou meu jeito de pensar e de sentir e me inspirou a ser e fazer muito mais. Ainda não tenho clareza do meu propósito, e confesso que me acomodei um pouco na inércia dessa dorzinha… mas quero me esforçar pra honrar essa nova missão que se abre.


Sinto muito 

Me perdoe

Te amo

Sou grata


Tenho descoberto que o luto é uma montanha russa cheia de altos e baixos. Às vezes estou lá embaixo e fico muito muito triste… Às vezes estou bem, lembro de você com alegria. Às vezes eu consigo até rir e sorrir, e ser brincalhona como era antes… Só que aí, me sinto culpada.


Sinto muito

Me perdoe

Te amo

Sou grata


Posso escrever sobre diversas situações e sentimentos que tenho vivido desde que você partiu. Mas nada resume tão bem quanto esta oração:


Sinto muito

Me perdoe

Te amo

Sou grata!

terça-feira, 19 de abril de 2022

"Me lembrei que o nosso amor não fronteiras..."

 Andei tendo dias difíceis... Dias nublados, desafiadores. 

Tenho confirmado que o luto não é mesmo uma linha reta, como a Ruth Manus explica tão bem nesse texto aqui: o luto não é uma linha reta

É engraçado porque quem me viu num dia bom, rindo, conversando e brincando "normalmente" pode achar estranho e até forçado eu estar tendo crises de choro no outro dia, sem qualquer motivo "aparente", sem que nada de novo tenha acontecido. Talvez, no passado, eu mesma julgasse alguém que visse assim, "super bem" num dia e completamente triste no outro, sem nenhum outro evento motivador dessa dor repentina... Ué, aquela dor não tinha passado, diminuído? Pois é... Vivendo e aprendendo.

Depois de alguns dias cinzas, achei que hoje seria difícil também. Eu sou muito ligada a algumas datas e hoje faz um ano que descobrimos a gravidez da Teresa. Faz um ano daquelas duas listrinhas rosas que mudaram a minha vida.

Achei que ficaria ainda mais triste e dolorida, como tenho andado. Mas acordei bem. Acordei feliz e grata.

Fechei os olhos e tentei lembrar do que eu senti quando eu vi aqueles dois risquinhos. Naquele dia, no fundo do meu coração, eu já sabia. Mas aquela confirmação... Quanta emoção, quanta felicidade, quanto amor. 

Como são poderosos os sentimentos e suas lembranças. Poderia ter ficado triste com essa lembrança (e pode ser que eu ainda fique, em outro momento, com essa ou outras lembranças - faz parte de ser humana). Mas a verdade é que aquele amor e felicidade me abraçaram essa manhã. E eu senti gratidão por tudo isso. Por todo esse novo e arrebatador amor que começou um ano atrás, eu só senti gratidão. E "me lembrei que o nosso amor não tem fronteiras..."


Um ano dessa alegria que estará sempre gravada no meu peito... É diferente do que imaginei um ano atrás, mas ainda assim, há muito amor e gratidão. 




terça-feira, 5 de abril de 2022

Yesterday

 Parece que foi ontem, mas faz 4 meses. 121 dias...

121 de saudades. Alguns (muitos) dias dolorosos, e alguns dias mais leves. Todos os dias: saudades.

Tenho lido vários relatos de outras mães que tiveram perdas perinatais (durante a gestação ou primeiros meses após o nascimento) e muitas dizem que temos saudade daquilo que não vivemos... Daquilo tudo que sonhamos e planejamos com nossos filhos.

É verdade. Cada marco temporal me coloca a questionar como ela estaria agora. Estaria brincando, sorrindo, começando a ficar sentadinha? Será que ia acordar muito durante as madrugadas? Será que ia gostar das músicas que colocaria para ela? 

Como ela ia ficar linda no colo do papai, com as roupinhas fofinhas que ganhamos...

Penso em todos esses "como seria" com um tiquinho de melancolia, mas também com amor e gratidão. É gostoso pensar nela, manter sua memória viva em mim. Mesmo a "memória" do que não pudemos viver nesse tempo.

Mas eu não tenho saudades só do que não pudemos viver. Tenho saudades do 'ontem', também. Tenho saudades das mexidinhas dela na minha barriga... De colocar as músicas para ela ouvir, de dançar com ela, da "resposta" em chutinhos para a voz do pai contando histórias e fazendo prece, coladinho na barriga. Tenho saudade de ouvir seu coraçãozinho... de ver seu rostinho no ultrassom. 

Sobretudo, tenho saudade daquele sentimento de, mesmo não sabendo o que viria depois, saber que enquanto ela estava na barriga, estava bem. Que gratidão eu sentia sabendo que eu era seu lar, seu abrigo, sua fonte de nutrição. Que saudades de saber que era eu que a mantinha segura, que eu era tudo que ela precisava. Que saudade de estar constantemente envolvida no maior amor e alegria que já senti na vida.

Ela precisou partir, e eu não sei o porquê. Também não quero respostas exatas. Ninguém tem a resposta exata e não adianta criar ou imaginar cenários para me consolar... Não precisa dizer que pode ser que ela volte como um outro bebê na nossa família, que ela era tal ou qual pessoa, que ela precisava reparar tal falha, que era a vontade de Deus, ou que foi melhor assim. Não importa.

Para mim, o que importa é que ela me concedeu a benção de ser sua mãe, pelo tempo que ela precisou estar aqui. Importa saber que fiz ao meu alcance para dar tudo que ela precisava naquele momento, todo o amor e cuidado que eu tinha. E saber que ela me ensinou muitas coisas, me fez querer ser melhor, me fez entender a importância de agradecer e valorizar cada dia, cada momento.

Ainda assim, sinto saudades. Fecho os olhos por alguns segundos e nos vejo vivendo tudo que não pudemos viver nesse momento.

Mas fecho os olhos novamente e lembro de tudo de maravilhoso que nós vivemos, me esforço pra resgatar todos aqueles sentimentos incríveis de amor, plenitude... e agradeço.

Gratidão, filha. Gratidão.

segunda-feira, 4 de abril de 2022

O poder do amor

No começo, eu estava anestesiada, amortecida.

Era tudo meio embaçado, nublado, nebuloso. 

Aos poucos, a névoa foi se dissipando  e foi possível ver com um pouco mais de clareza. E aí doeu, doeu muito. 

O corte da cirurgia latejava e era uma lembrança constante de que eu fui aberta e tive um pedacinho meu tirado de dentro mim. Ficou o vazio e a dor. Era essa sensação física e psicológica também. Me abriram e tiraram de mim o que mais me importava. Qualquer movimento, qualquer posição só aumentava a dor. E parecia que nunca mais eu ia conseguir me mexer sem sentir aquela fisgada excruciante.

Mas teve amor. Teve muito carinho, acolhimento, paciência.  Teve flores, mensagens, abraços, orações, rabinho abanando e fucinho gelado. Teve sopa, teve bolo, teve lágrimas compartilhadas. Teve tanto cuidado. Teve tanta gratidão. Teve tanto apoio.

E, eventualmente, foi possível mudar de posição, levantar, caminhar, seguir, apesar da dor. Passou a ser possível aceitar, viver e conviver com a dor. A dor encontrou o lugarzinho dela e passou a fazer parte de mim.

Escrevo para lembrar. Que eu tive medo, mas nunca estive só. E que a maior dor foi também em benefício do maior amor. E que eu aceitaria aquela dor de novo, cem vezes mais, para entregar o cuidado e amor que ela precisasse de mim.

O poder do amor é incrível. O amor que me faria sentir qualquer dor que fosse necessária para o seu bem... Foi também o amor que me curou da dor que ficou.