segunda-feira, 4 de abril de 2022

O poder do amor

No começo, eu estava anestesiada, amortecida.

Era tudo meio embaçado, nublado, nebuloso. 

Aos poucos, a névoa foi se dissipando  e foi possível ver com um pouco mais de clareza. E aí doeu, doeu muito. 

O corte da cirurgia latejava e era uma lembrança constante de que eu fui aberta e tive um pedacinho meu tirado de dentro mim. Ficou o vazio e a dor. Era essa sensação física e psicológica também. Me abriram e tiraram de mim o que mais me importava. Qualquer movimento, qualquer posição só aumentava a dor. E parecia que nunca mais eu ia conseguir me mexer sem sentir aquela fisgada excruciante.

Mas teve amor. Teve muito carinho, acolhimento, paciência.  Teve flores, mensagens, abraços, orações, rabinho abanando e fucinho gelado. Teve sopa, teve bolo, teve lágrimas compartilhadas. Teve tanto cuidado. Teve tanta gratidão. Teve tanto apoio.

E, eventualmente, foi possível mudar de posição, levantar, caminhar, seguir, apesar da dor. Passou a ser possível aceitar, viver e conviver com a dor. A dor encontrou o lugarzinho dela e passou a fazer parte de mim.

Escrevo para lembrar. Que eu tive medo, mas nunca estive só. E que a maior dor foi também em benefício do maior amor. E que eu aceitaria aquela dor de novo, cem vezes mais, para entregar o cuidado e amor que ela precisasse de mim.

O poder do amor é incrível. O amor que me faria sentir qualquer dor que fosse necessária para o seu bem... Foi também o amor que me curou da dor que ficou. 

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