sexta-feira, 1 de abril de 2022

A régua do sentir

 Ontem eu tive uma crise de riso...

Foi a primeira vez, desde que minha filhinha nasceu e partiu, há quase quatro meses. Eu já tinha rido antes, mas não tanto como antes dela nascer.

Quando eu soube que ela partiria, quando ela partiu, embora eu achasse que compreendia e aceitava o que tinha acontecido, pensei que jamais conseguiria rir assim de novo. 

Mas, ontem, eu ri. De algo muito bobo, com amigos muito queridos, eu ri.

Nos momentos seguintes, já passei a me sentir culpada. É como dizem: nasce uma mãe, nasce uma culpa. No meu caso é um pouco diferente. A culpa veio porque eu pude rir, mesmo tendo perdido uma filha há tão pouco tempo (Aliás, quanto tempo é muito ou pouco tempo? Assunto para um outro texto).

Algumas pessoas dizem: "Como você é forte, eu não conseguiria". E em alguns momentos, essa frase me machuca um pouco. Que mãe sou eu, que consegue rir e sorrir depois de ter passado por isso? Será que as pessoas "que não conseguiriam" amam mais seus filhos do que eu amo a minha filha que já partiu?

É claro que não! Racionalmente, eu sei que não. Que os sentimentos, a dor e o amor, não tem uma régua universal que permite medir que pessoa ama mais, ou sofre mais. A medida é individual, particular. Só eu posso dizer o quanto sinto: que eu amo a minha filha mais do sabia que podia amar alguém. E que sua partida dói mais do que qualquer dor que eu já senti na vida. Ainda assim, a culpa me abala.

É. Ontem eu ri. Ri muito, ri alto e sinceramente. E não quer dizer que eu não ame a minha filha, ou que não seja mais dolorida a sua falta. Não quer dizer que eu esqueci dela por alguns momentos. Quer dizer apenas que estou seguindo, vivendo, sobrevivendo. E fazendo o possível para valorizar a vida que tenho. Foi uma das tantas coisas que o tempo breve com a minha filha me ensinou. Foi um dos presentes que ela me deu.

Antes de atravessar essa ponte da nossa separação, eu também achava que nunca mais seria capaz de sorrir, que não teria vontade ou alegria de fazer mais nada.

Mas desde o começo do nosso tempo juntas, ela me mostrou a importância de aproveitar cada dia, de viver cada dia. E é também para honrá-la que eu tentarei não ser triste, que aproveitarei as oportunidades de rir e sorrir. Mesmo com saudade, mesmo que seja sempre para imaginar depois como seria essa mesma situação se ela estivesse aqui.

Minha filhinha amada... A saudade é tão grande. Mas eu só quero vibrar coisas boas pra você. Então vou tentando aprender a sentir saudade sem tanta tristeza, a ser essa nova pessoa que você transformou.

"Quero que você seja feliz, hei de ser feliz também, depois..." 💓


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